O meu nome é Ninguém
artista
Sebastião Casanova
Circular Innovation Hub, Coimbra, PT
19 Abril 2024
João Pedro Filipe
The Loop Co.
Local
Data
Curadoria
Mecenas
pt
O trabalho de Sebastião Casanova abre uma janela neste sufoco ontológico e procura contrariar precisamente esta tendência. Denuncia a aparente verdade. É uma ode ao Homem comum; uma exaltação da vida normal; uma elevação da banalidade do dia-a-dia. Mostra que é possível encontrar o extraordinário na rotina e na vida diárias. O normal é aqui excepcional e é fonte de distinção. A pintura de Sebastião Casanova conduz o espectador ao encontro com o mundano, com a beleza cénica do real. Não procura remeter para mundos extraordinários e distintos, ainda que o sonho Humano consiga lá chegar. A beleza do real, da verdade, é ali testemunhada e eternizada pela técnica e pela tinta. Encontra-se um simulacro, um olhar quase fotográfico. A pintura cria familiaridade e aproxima o espectador da obra. Sensações param o olhar. É uma pintura? Quem é? Serei eu? Encontra-se um mistério que cativa e interroga o espectador. Moções são levantadas. E aqui, encontra-se o potencial extraordinário do ordinário.
A procura pelo extraordinário sempre foi inerente ao Homem. A saída do comum carrega um fascínio particular correspondido por um sentimento de superioridade e prazer. E a ambição humana empurra convenientemente o ser para essa procura. É inevitável; é natural. Mas o apetite tende a não ter fim; o desejo alimenta-se daquilo que destrói; nunca termina, porque haverá sempre vontade de mais; haverá sempre um degrau acima. É uma comichão impossível de cessar. Parece que só é válido o extraordinário, o excepcional, o distinto. E essa busca é aditiva, obsessiva até. A vida deixa de ter espaço para o normal e para o comum; e tende-se a encher de excepção, de diferente. E quando só há normalidade no interior, o exterior inquieta-se.
“O meu nome é Ninguém” questiona os limites entre o que é obra e o que é espectador. Cria pontes e mistura o olhar. E ao ser inserida num espaço de trabalho - na sede da Loop Co. -, a exposição intensifica o peso do dia-a-dia com a intencionalidade das obras. A tinta expande o ordinário e a pintura fura a rotina. Devolve-se ao espectador o espaço do normal.
João Pedro Filipe, março 2024
en
The search for the extraordinary has always been inherent to man. Breaking out of the ordinary carries a particular fascination that is accompanied by a feeling of superiority and pleasure. And human ambition conveniently pushes the individual towards this pursuit. It's inevitable; it's natural. But appetite tends to have no end; desire feeds on what it destroys; it never ends, because there will always be a desire for more; there will always be a step higher. It's an itch that can't be stopped. It seems that only the extraordinary, the exceptional, the distinctive is valid. And this search is addictive, even obsessive. Life no longer has space for the normal and the ordinary; it tends to be filled with the exceptional, the different. And when there is only normality on the inside, the outside becomes unsettled.
The work of Sebastião Casanova opens a window on this ontological suffocation and seeks to counteract precisely this tendency. It exposes the apparent truth. It is an homage to the common man; an exaltation of normal life; an elevation of the banality of everyday life. It shows that it is possible to find the extraordinary in everyday life and routine. The ordinary is exceptional here and is a source of distinction. Sebastião Casanova's painting leads the viewer to an encounter with the mundane, with the scenic beauty of reality. It doesn't try to take the viewer to extraordinary and different worlds, even if the human dream manages to get there. The beauty of reality, of truth, is witnessed and eternalised by technique and paint. We find a simulacrum, an almost photographic gaze. The painting creates familiarity and brings the viewer closer to the work. Sensations freeze the gaze. Is it a painting? Who is it? Is it me? A mystery is found that captivates and questions the viewer. Motions are raised. And here we find the extraordinary potential of the ordinary.
“My name is Nobody" questions the boundaries between the work and the spectator. It creates bridges and mixes the gaze. And by being set in a workspace - at The Loop Co. headquarters - the exhibition intensifies the weight of everyday life with the intentionality of the works. The paint expands the ordinary and the painting breaks the routine. The viewer is given back the space of the ordinary.
João Pedro Filipe, march 2024
com o apoio de